quarta-feira, 15 de junho de 2011

Leitura surpresa de poesia

Uma criança de 12 anos veio com um poema "Espelhos" de Gastão Cruz para ler, disse que o ia apresentar na aula de português mas antes gostava de ler para nós.

"O mar que em mim se espelha
e em mim se degrada
somente se assemelha
à boca derrotada

pelos usos inúteis
do amor e da fala
Ele reflecte fúteis
as imagens que exala

É o mar que me espelha
o líquido onde nada
à vida se assemelha
como uma fútil fala"

Logo, seguiu-se outra criança que tendo já preparado o poema para a sua aula, também o quis ler: "Fundo do mar" de Sophia de Mellho Breyner Andersen.

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Deixo aqui um video deste poema. Clique, Aqui.

Eu peguei no manual da criança, ou atendendo aos seus 12 anos, é melhor dizer da jovem e escolhi para ler um poema que me é muito querido "Lágrima de preta" de Antonio Gedeão.

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente

Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o qu'é costume

Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio

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